quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

O Brasil dos privilégios

Lembram daquele programa humorístico, que o Jô Soares apresentava, Faça Humor Não Faça A Guerra? Tinha lá um personagem que usava o seguinte bordão; "Não precisa explicar, eu só queria entender!". Como é tão atual! 

Esta senhora do vídeo publicado na internet pelo site Poder 360, Elizete Ramos, subprocuradora da república, na reunião, fica a reclamar que teve dificuldade para ir para a sessão do CSMPF (Conselho Superior do Ministério Público Federal) porque o serviço de transporte da PGR não funciona e ela teve que pegar um UBER. 

Não sei o posicionamento político dela, na verdade não me interessa saber, mas o que me interessa ver é que tenha o matiz político que tiver suas aspirações são as mesmas, ou seja, o estado tem que ser o provedor total para suas necessidades. 

Em dado momento ela afirma: Eu perdi meu motorista por causa de férias. Foram dados 3 meses de férias direto para ele, eu não entendo bem como que a administração dá 3 meses de férias para um motorista e não reverte isso”. 

Vejamos com calma: um subprocurador do estado tem que ter um motorista à sua disposição para levá-la ao trabalho e, consequentemente, levá-la de volta para casa, tudo por conta do erário e dos impostos pagos pelos contribuintes? Por quê? 

Não satisfeito, o senhor Procurador-Geral da República, lamentou o caso e disse que o fato “não é um tema simples”, por se tratar de um assunto de segurança e não de conforto. “A questão não é pegar Uber ou não pegar Uber”, disse. O procurador-geral também disse que irá sugerir a abertura de concurso para contratação de novos motoristas para a PGR, visto que, em 2020, o CSMPF rejeitou a abertura de um novo edital. Não o ouvi dizer que as despesas estavam altas e portanto teríamos que entrar em regime de contenção das despesas. 

Para onde vamos e para onde queremos ir? 

Funcionário de alto escalão, com salário muito acima da média dos brasileiros não pode ir trabalhar com seu próprio carro, o estado tem que lhe dar "por questões de segurança" como afirma o procurador-geral este benefício. 

Como dizem os baianos, "Bata-me um abacate!" 

Penduricalhos como carro com motorista, auxílio moradia (mesmo morando na cidade em que trabalha), auxílio "vestimenta", auxilio para filhos em escola, foro especial (o Brasil tem mais de 50.000 funcionários com foro privilegiado), etc, etc....,enfim, o estado com seu tamanho mastodôntico a suprir necessidades que qualquer trabalhador banca com seu salário para executar suas tarefas, onerando a carga tributária porque alguém tem que pagar por todas estas mordomias. 

Todos os dois candidatos à presidência prometeram rever o teto para isenção do imposto de renda para quem ganha abaixo de R$ 5.000,00, ou seja, o estado iria dar isenção para quem ganhasse até este limite, mas bastou assumir o novo presidente para dizer que não tem condições de cumprir com aquela promessa porque o estado está quebrado. Este presidente que assumiu está falando o mesmo que o outro que perdeu falaria também, caso tivesse ganho. Não sabiam estes senhores que não tinham como cumprir estas promessas? Claro que sabiam, mas para o povo que quer ouvir o "canto da sereia" podem prometer o que quiserem porque ninguém pode cobrá-los. 

Quanta sem-vergonhice! 

Basta de termos um estado provedor e protetor! 

A remuneração média dos funcionários públicos brasileiros está muito acima da média do mercado de trabalho na iniciativa privada. Os benefícios recebidos são muito maiores do que os valores pagos por empresas muito ou pouco lucrativas: deu resultado melhora sua remuneração, deu pouco resultado entra na lista de "não necessários", "de descartáveis"; simples assim! 

É preciso criar a consciência de que funcionário público está para servir e não para ser servido pelo estado, na verdade pelo contribuinte, aquele mesmo contribuinte que paga uma carga imensa de impostos porque o estado em sua voracidade de gastar, seja com salários, benefício, mordomias ou simplesmente por má gestão, não consegue ser enxuto. 

Até quando teremos governantes que só se preocupam com inchar a máquina pública sem se preocuparem com o retorno que deve ser dado para o contribuinte com boas escolas, saúde de qualidade e infraestrutura que atenda o dia a dia do seu provedor maior o contribuinte, aquele para o qual deveriam ser estendidos todos os tapetes vermelhos. 

Como isto me aborrece! 

 

Pobre Brasil! 

Pobres brasileiros! 

 

@Borba1948 

ceborba.blogspot.com 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Familia Borba, a Pepsi e Brian Swette

Esta semana, vendo um documentário na Netflix, “Pepsi, cadê meu avião?” vi dando depoimento um executivo, Brian Swette, o que me levou a recordar um período no qual trabalhei na PepsiCo, divisão refrigerantes, aqui no Brasil.

Era o ano de 1981, eu recém transferido para a BA, vindo de MG, Uberlândia, curtindo a paz de estar em Salvador, cidade tranquila, na qual logo de cara fiz uma amizade incrível, que levaria para toda a vida, e que inclusive veio a se tornar nosso compadre após batizar a mais nova filha nossa, Jesus Villanova Martinez.

Susso, como o chamávamos, era o responsável químico da engarrafadora Pepsi na BA, e seria a mais improvável amizade nossa porque, devido ao nosso trabalho de representante da multinacional junto ao fabricante, poderia nos levar a ter, invariavelmente, atritos para manter a qualidade do produto final, que era um dos pilares de preocupação da nossa empresa, visto que nosso concorrente, a Coca Cola, tinha um sabor bem mais acentuado e nosso produto, Pepsi Cola, precisava manter sua principal característica de ser menos “agressivo” na boca do consumidor. Grandes batalhas mercadológicas e de mídia foram travadas não só aqui no Brasil mas em todo o mundo; boas lembranças.

Em 1980, aqui a memória falha um pouco, se não me engano durante o mês de junho, viemos transferidos e logo de cara passamos por um sufoco imenso. Nosso voo iria de Uberlândia para Salvador conexão em Brasília, troca de avião e de voo, mas como o voo vindo de São Paulo atrasou, chegamos em BSB também com atraso o que nos levou a perder a conexão para SSA, obrigando a nossa família a pernoitar na capital federal. Aí ocorreu um fato inusitado: a VARIG, sim ainda existia aquela empresa excelente que tratava o passageiro com um serviço de bordo maravilhoso, nos levou para um hotel, Torre Palace na esplanada dos hotéis em BSB, para que pudéssemos pernoitar e aguardar o voo no dia seguinte. Ao chegarmos nos deram um apartamento simples, para nos abrigar: dois adultos e duas crianças, uma com oito e outra com quase dois anos, além é claro de toda a bagagem – imensas malas levando grande parte das nossas roupas visto que iríamos aguardar ainda um tempo para acomodação em Salvador e transferência definitiva. Logo ao chegarmos na recepção mostrei que por conhecer demais o hotel, nos hospedávamos sempre que íamos a serviço em BSB neste hotel, que a acomodação era pequena portanto precisávamos de algo maior, e como já éramos clientes nos disponibilizaram uma suíte, não sem antes termos um desentendimento com o preposto da VARIG que nos acompanhava. Diversão total para as meninas com espaço mais que suficiente para correr e brincar e com dois dormitórios.

Chegando em SSA, no dia seguinte, já à noite – naquela época não havia tantas opções de voos, e como o voo também atrasou e a companhia aérea só tinha um horário para Salvador chegando por volta, acredito, das 18:00/19:00, ao chegarmos ao Hotel em SSA, Othon Palace, nossa reserva já havia sido cancelada e tivemos que procurar outro hotel. Aí a memória já falha um pouco; acho que Susso nos levou para um hotel de propriedade de alguém da colônia espanhola no Porto da Barra, excelente localização, no qual alugamos uma suíte que ficava ao lado da suíte ocupada por um casal, ninguém menos que o maior supermercadista do nordeste, e um dos maiores do Brasil, “Seo” Mamede Paes Mendonça e sua esposa Dna. Lindaura; Lourdes com sua enorme facilidade de fazer amizades logo já estava interagindo com Dna. Lindaura, que era uma pessoa bem reservada.

Mas voltando ao caso da série da Netflix - Pepsi, cadê meu avião? - neste período 80/81 assume a presidência da PepsiCo Brasil, um jovem executivo, Brian Swette, um rapaz bem descolado, com perfil bem diferente dos outros presidentes que por aqui passaram, vestia jeans e tênis, vestimenta pouco usual para os que presidiam, e já haviam passado pela empresa no Brasil, presidente nada sisudo, brincalhão, jovem mesmo de idade, espírito e comunicação.

Em 1981, em tour de visita aos fabricantes eis que aporta na Bahia, para conhecer melhor o mercado e o fabricante o nosso presidente Brian Sweet. Preparamos tudo o que fosse necessário junto com o fabricante, na época quem comandava a fábrica era o Sr. Evandro, um típico cidadão baiano, criado na Cidade Baixa, com residência, se não me falha a memória na Av. Dendezeiros, não tão distante da fábrica que ficava também na cidade baixa, no bairro do Uruguai, que junto com o nosso Susso prepararam tudo na fábrica para a visita.

Uma das premissas da visita, além é claro de “abraçar” o fabricante, era conhecer o mercado e suas particularidades. Quando saímos após visita e reuniões na fábrica, o presidente Brian, fez questão de conhecer o jeito baiano de ser, interagir e comer comida típica; o levamos ao Pelourinho para almoçar no restaurante do SESI. Logo depois do almoço fizemos uma caminhada pelo Pelô quando demos de cara com uma baiana de acarajé. Brian, comilão, quis logo provar um quitute do tabuleiro e foi apresentado ao acarajé; a baiana, com todo o seu jeito para agradar logo perguntou se queria “quente”. Nosso convidado imediatamente aceitou a oferta, mesmo tendo sido avisado que “quente” era com bastante pimenta. Deu a primeira mordida e começou a esbravejar “fógo”, "fógo" abanando a boca aberta, ficando vermelho, pedindo água, gelo, o que quer que pudesse amainar o ardor da pimenta, e nós, sem podermos rir da cena, dizíamos a ele que nada mudaria o que ele estava sentindo e só com mais alguns minutos, e salivação, ele poderia não mais sentir aquele ardor.

Esta passagem ficou marcada em nossa memória mesmo porque, no outro dia, em andança nas ruas de Salvador, ao passarmos pelo bairro de Amaralina, no local que é denominado de Chapéu das Baianas, mais uma vez ele fez questão de comer acarajé, e não fez por menos, pediu quente, mesmo sofrendo com o ardor da pimenta.

Bons causos para nos recordar de momentos alegres e descolados da nossa vida e profissional.

Não sei por onde anda o Brian hoje, só pelo que vi no filme, também não sei se ele lembraria deste episódio que para nós foi marcante, não só pelo que ele representava como principal executivo na empresa mas por marcar um momento de descontração importante para todos nós.

 @Borba1948

ceborba.blogspot.com