Só para relembrar um escrito de 2016.01
Nos últimos dois anos me impressionam as atitudes do nosso
governo e do Ministro da Justiça no tocante às denúncias de corrupção que
grassam em todas as esferas do governo.
O que mais me impressiona é que, apesar de todas as
denúncias (embora ainda exista no Brasil muito denuncismo) de corrupção no
governo através das atitudes do partido governista, o PT, ainda assim o governo
não se rendeu a querer apurar tudo, muito pelo contrário, tentou de todas as
maneiras bloquear as tentativas de apuração através de ações que este mesmo
partido sempre condenou.
Estas ações diversionistas e fisiologistas promovidas pela
cúpula e pelas lideranças do governo, tanto na Câmara dos Deputados como no
Senado nos levam a repensar todo o apoio que nos foi pedido e foi dado através
do voto.
Vejam que relendo nossa história recente, da era Collor de
Mello, quando em manobra política realizada
pelo povo através dos estudantes, os “caras-pintadas”, que
nos deram exemplo de democracia, cidadania, atitude política e que levaram a
ação de pedido de “impeachment” daquele governante, o que foi conseguido
através de ação promovida por cidadãos da mais alta linhagem política e do
direito, causídicos de estirpe, deste país como
Evandro Lins e Silva, Miguel Reale Jr e Fábio Conder Comparato, nos
surpreende que membros ativos deste governo como o Ministro da Justiça, Márcio
Thomás Bastos, continuem apoiando estas tratativas e descaminhos.
Relendo um livro de depoimentos feitos ao CPDOC da Fundação
Getúlio Vargas – O Salão dos Passos Perdidos, por Evandro Lins e Silva, um dos
maiores expoentes do direito deste país, no qual temos um relato de sua vida
pessoal, profissional e política, ele nos conta como foi todo o processo para a
ação do impeachment.
“Quando surgiu a idéia do impeachment, os textos iniciais da
petição foram feitos em São Paulo. Do primeiro grupo que produziu um texto eu
não posso fixar quem fazia parte. Depois houve um texto do Fábio Konder Comparato
e um outro do Miguel Reale Jr. Recordo-me que houve uma reunião em São Paulo
na casa do Márcio Thomás Bastos, em que talvez houvesse uns 20 advogados
presentes, onde se discutiu esses textos (grifo meu) .........Aquele grupo
de advogados estava concentrado ali, por inspiração da OAB e da ABI, a
Associação Brasileira de Imprensa, para encontrar uma maneira de propor o impeachment.
Mais à frente, quando fazia o relato já do processo ele
explica porque dispensou o depoimento de Paulo Cesar Farias:
“....Eu tinha lido na Veja uma entrevista do PC
Farias dizendo que o Collor era um ingênuo, inteiramente desinteressado de bens
materiais, de dinheiro, era um homem que não sabia nem fazer um cheque,
portanto, inocentando o Collor. Logo pensei: está aí a trama entre eles.O
depoimento do PC Farias vai ser, perante a nação, um panegírico, um elogio do
Collor. Collor vai ser apresentado como um homem inocente, fora de qualquer
ação.”
Será que isto tem a ver com o momento atual do nosso
Presidente quando afirma que “eu não sabia”? É a história que se repete e nos
leva a imaginar que o sonho acabou.
Porque será que todos aqueles que lutaram tão bravamente
contra aquele “status quo”, aqueles momentos que, de certa forma, turvaram a
nossa tão recente história de democracia plena e completa, se tornaram tão
óbviamente retrógrados?
Espero sinceramente que esta aventura do PT não nos leve ao
desalento de acreditar que para nós brasileiros o Brasil não tem saída.
Carlos Eugenio Borba
Salvador - Bahia
cecborba@gmail.com
@Borba1948