segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Uma lupa e o encantamento do cliente


Hoje, lendo notícias de que os vereadores da cidade do Rio de Janeiro aprovaram uma lei obrigando aos estabelecimentos de supermercados da cidade a disponibilizarem lupa para os clientes lembrei de algumas histórias vivenciadas em meus “alguns” anos de vendas.

Não vou aqui discutir se é bom ou se é ruim, se esta deveria ser uma preocupação dos edis da cidade do Rio de Janeiro, que afinal ganham rios de dinheiro para produzir certas “pérolas” mas cabe aqui um depoimento meu acerca de visão empresarial.

Em minhas muitas viagens pelo nordeste, a trabalho na área comercial, tinha como clientes as grandes redes de supermercado, atacados e distribuidores e como parte da minha tarefa de conhecer bem os clientes, além da visita de negócio me obrigava, claro, a visitar as lojas e a conversar com os clientes que lá, nas lojas, faziam compras.

Dentre as várias redes regionais uma sempre me chamava a atenção, ficava sediada em Natal – RN, tinha um CEO, Sr. Manoel (se não me falha a memória), comerciante de larga competência, e experiência, um verdadeiro dinossauro no ramo, no melhor sentido, e com cuidados muitos próximos, podíamos assim dizer, da perfeição no atendimento.

Lembro que uma vez, em visita comercial à cidade, estava sendo inaugurado um Hiper Carrefour no Bairro Redinha, e esta nova loja ficava ao lado de uma outra, com boas vendas, da rede Nordestão, mas tinha um grande diferencial, qual seja, ar condicionado, muita amplitude – afinal era um Hiper Mercado, com um posto de gasolina, enfim, com tudo o que tinha direito para o consumidor se sentir bem.

Após estarmos na inauguração visitamos a loja do Nordestão e, sem surpresa, Seu Manoel lá estava conversando com seus clientes, procurando saber em que poderia melhorar a loja, enfim, ouvindo dos seus clientes, como poderia melhor atendê-los visto que um grande hiper estava inaugurando ao lado.

Depois de algum tempo reformou toda a loja, colocou no estacionamento equipamentos para sombrear as vagas, ar condicionado, novo layout, enfim, seus clientes já acostumados com a nova realidade da loja simplesmente deixaram a loja do Carrefour às moscas; na verdade a rede Nordestão tinha naquela época, já a fama de fazer com que as grandes lojas Hiper das redes Bompreço, Pão de Açúcar e Carrefour fosses denominadas de cemitérios visto que na maioria do tempo ficavam às “moscas”, com baixo fluxo de clientes. Note-se que nenhuma loja da rede, naqueles anos de 2005 a 2008 em que visitava constantemente a região, poderia ser classificada como Hiper, eram todas as lojas supermercados, algumas maiores outras nem tanto.

Mas não é sobre isto que quero falar e sim da forma como aqueles “dinossauros” do comércio encantavam seus clientes.

Em um determinado dia, visitando a loja com o vendedor da região, Francisco, hoje um grande conhecedor de vinhos e charutos, avaliando o trabalho de promotoras e degustadoras, deparei com uma lupa, isto mesmo, UMA LUPA, colocada na gôndola de forma a facilitar a qualquer cliente que sentisse dificuldade para ler aquelas letrinhas miúdas nos embalagens/rótulos dos produtos, para que pudesse ter comodidade para ficar a par do que estava escrito.

Qual não foi minha surpresa, ao verificar que em várias gôndolas, em locais estratégicos e sinalizados, encontrávamos as lupas e vários clientes fazendo uso; e não estávamos na era dos QRCODE, que hoje disponibilizam toda a informação do produto ao cliente.

O que quero, com este depoimento, é demonstrar que sempre haverá alguém querendo encantar seu cliente, e para isto não precisa de uma lei, seja ela municipal, estadual ou mesmo federal visto que quem conhece mesmo o seu cliente faz com que a fidelidade seja natural e sem cobrança.

Encantar, tratar de dar ao seu produto o valor que o cliente espera dele, fazer com que o cliente se sinta importante, enfim deixar o cliente à vontade com gestos tão simples, como uma LUPA para poder ver letrinhas de rótulos/embalagens, isto sim é fazer com que seu negócio se perpetue.

Não sei de Seu Manoel, já deve ter passado desta para melhor, como se diz no popular, mas uma certeza eu tenho, aquele comerciante sabia como encantar o seu cliente.

@Borba1948

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