terça-feira, 3 de junho de 2025

Barbeiros, pescadores e outros

Na barbearia, hoje "Barber", cada visita que se faz, para corte de cabelo ou de barba, é uma história diferente, hilária e até repousante.

Lá na barbearia que frequento, o barbeiro que me atende, e já sofre comigo há mais de trinta e tantos anos, que o diga. Já cortou cabelo uma das minhas filhas, e de dois dos netos homens, ou seja, já foi o responsável por corte até da terceira geração; tá ficando velhinho!

Só tem um pequeno problema: ele tem pouquissimo cabelo! É quase careca total!

Será que o nome correto do estabelecimento não deveria ser outro? Talvez devesse ser denominado de "CONSOCOCAAL" - Consultório Sociológico das Coisas da Cabeça e Da Alma, mesmo porque, não neste caso especifico já que os profissionais são um tanto quanto rebeldes e não se trajam como deveriam, de jaleco branco. Aí sim, teriamos um verdadeiro consultório sociológico e, quiçá, psicanalítico.

É deveras interessante ouvir tudo que se conversa por lá, das fofocas do dia a dia - aqui precisa de um hiato, uma interrupção da crônica: verdadeiramente, embora a maioria do homens possam não gostar disto, ser fofoqueiro na barbearia pode ser muito normal; como gostam de fofocas! Temos as histórias do homem que a mulher lhe dava cascudos, a história do político que vai lá se vangloriar dos seus feitos em prol do "povo" que o elegeu, daquela viagem malfadada, da pescaria que deu certo e da que não deu, enfim, um caleidoscópio de imagens produzidas pelas tantas conversas por ali provocadas. 

Temos o cristão evangélico, este sabe de tudo da Bíblia e quer sempre mostrar seu conhecimento do livro sagrado, sempre disposto a nos dar mostra do seu conhecimento, do cristão católico- este nem sempre disposto a falar da religião, mas antenado com tudo do mundo profano ou mesmo religioso, do candomblecista, do ateu, do agnóstico, enfim tudo isso que acaba por transformar nosso ilustre profissional da beleza capilar no melhor sociólogo, quiçá psicanalista do pedaço. Não tem como ele ser simplesmente barbeiro!

E não tem remuneração para isso!

Pelo contrário, a grande maioria que vai lá para se embelezar, dar aquele corte da hora, aquele corte que o influencer usa, ou até aquele corte usado pelo jogador de futebol, acaba usando a cadeira do barbeiro como divã das suas dificuldades do dia a dia.

Quantas histórias eles teriam a nos contar?

Porque não escrevem um diário de tudo o que ocorre naquele consultório da vida? Que "best seller" não daria! Com certeza um livro campeão de vendas por contar tantos causos interessantes.

Será que desvendariam alguns mistérios acontecidos em algum lugar deste nosso planeta?

Sem falar no bom atendimento: quer uma água? Um café ou cappuccino? Quanta cortesia para manter seu cliente satisfeito enquanto aguarda a hora de ser atendido!

Aí vem o cliente, senta na cadeira (não poderia ser divã?), começa a sessão.

Como gostaria de saber das histórias dos amores perdidos, das aventuras amorosas e profissionais, das lamentações das perdas fossem elas materiais ou mesmo da alma, das vitórias conseguidas!

E ele, o pobre coitado do barbeiro, ao sair dali precisa de um banho de descarrego para tirar todo o peso daquele dia de trabalho, não o peso das pernas mais que cansadas de um dia inteiro de trabalho mas de toda a carga emocional que ele agregou naquele dia de trabalho. Deve cansar um bocado!

E as conversas para salvar o país da desgraça do governo que hora está no poder- seja ele de esquerda, direita, centro ou de que lado for, mas na maioria das vezes vai ter que concordar com seu cliente para não perdê-lo quando do próximo corte de cabelo; seu cliente precisa confiar na descrição e na paciência de ouvir do "seu" barbeiro.

E as questões do futebol? Ele, o barbeiro, pode emitir suas opiniões com franqueza mesmo quando torce pelo time adversário do cliente, aquele time de sardinhas, urubus, gambás, galinhas ou qualquer outro animal que caracteriza seus adversários? 

Não vai ter briga com seu cliente? 

Este psicólogo não formado na faculdade mas na vida, precisa ter muita paciência e inteligência para não cansar e desgostar o seu cliente: haja banho de descarrego para tirar essa inhaca, esse desconforto!

"Eparrei Inhansã!"

A pergunta que não sei responder: nos salões de beleza femininos se discute com tanta veemência tanta intensidade de futebol e política? Nestes salões se tenta salvar o país? Ou as mulheres têm tantas outras preocupações que nós não temos capacidade de conseguir entender?

Há discussão sobre economia?

Na barbearia sim; porque aparecem doutores em economia que têm todas as soluções para salvar o país da inflação alta e descontrolada, grandes tratados sobre como cuidar do seu dinheiro e em qual aplicação apostar para não perder seu rico dinheiro ganho com tanto suor. 

E aqui fica a pergunta: porque com tantos ensinamentos nossos barbeiros não são os bambambãs da economia e da política? Quem sabe? Acho que os ensinamentos por lá não são tão verdadeiros e reais: são meramente conversas jogadas fora, passatempo, pura diversão sem maiores comprometimentos.

Pode-se entrar na barbearia triste com nossos problemas e nosso cabelo, barba e bigode desgrenhados, mas sempre saímos de lá alegres, leves, e invariavelmente mais bonitos do que quando entramos.

Bem, o título inicialmente tinha a ver com histórias que poderiam ser mal contadas, pescadores e caçadores bem sabem disso, mas nossos barbeiros se contam histórias inverídicas o fazem com tanta certeza de que contam histórias reais nas quais sempre iremos acreditar. 

Quanto poder tem o BARBEIRO!

@Borba1948 

ceborba.blogspot.com 


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