sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

Cenas do cotidiano

Vou aqui contar uma história acontecida comigo, inusitada é bem verdade, mas sem a menor pretensão de menosprezar ou de ironizar, mas simplesmente pelo fato incomum nos dias de hoje, dias de preocupação com segurança por tudo o que vemos em Salvador.

Saindo do trabalho, na Rua Oscar Carrascosa, aquela ladeira que vai do Jardim Brasil, na Barra, subindo para a Ladeira da Barra - Av. Princesa Isabel, a do Hospital Português, que desce até o Porto da Barra, e quando estava abrindo a porta do carona para colocar meu notebook no carro, porta esta totalmente na rua, quando fui interpelado por uma senhora que parou o carro dela, um Jeep, abriu o vidro e, sem nenhuma cerimônia, me pediu ajuda para sanar um problema que ela estava tendo no carro.

Quem conhece a ladeira sabe que é uma rua apertada, mão única de subida com estacionamento à esquerda de quem sobe, fluxo do trânsito, portanto sem espaço para passarem dois carros no sentido da subida, e ela simplesmente parou e travou o trânsito; pedi para que a senhora subisse mais um pouco porque havia uma vaga  e ao parar nela iria desobstruir a subida, já que haviam carros parados atrás do dela.

Era uma senhora com seus sessenta e muitos anos, bem vestida, o carro era novo, mas ela estava com problemas para ligar o ar condicionado, estava saindo ar quente ao invés de refrigerar.

Começou a me contar a história do carro, que havia sido dado a ela pelo filho, que ela não sabia operar direito e quem o fazia era a filha dela, portanto ela não sabia nada do que estava acontecendo.

Com a janela do motorista aberta verifiquei o problema e, realmente, ela estava no sufoco pois o fluxo de ar que saía era muito quente, como se estivesse um aquecedor ligado. Imaginem como ela deveria estar sentindo o problema, e isto estava ocorrendo no horário mais quente do dia, por volta das 13:30!

Passei para o outro lado do carro, pedi que ela abrisse a janela e liberasse a porta para que eu pudesse ver o que estava ocorrendo, e ao abrir a porta do carona lá estava no banco uma bolsa grande, daquelas que a maioria das mulheres gosta de carregar, talvez até quase um baú, toda aberta e ela sem a menor preocupação com a minha presença.

Ao verificar o termostato no painel do carro, vi que estava todo posicionado para a temperatura mais quente: por algum motivo a senhora, ao tentar ligar se equivocou e deixou o carro quase uma sauna. Imaginem a cena: início do horário da tarde, ela com os vidros do carro fechados e o painel enviando ar quente para o interior; praticamente uma sauna seca e sem cheirinho, e aroma, de eucalipto!

Regulei o termostato para o frio, no mais alto grau, e imediatamente o ar condicionado começou a funcionar refrescando o ambiente.

Quer alegria dela! Agora poderia sim dirigir seu carro em boas condições de conforto sem aquele calor infernal que ela já tinha passado.

Agradeceu, eu pedi a ela que fechasse o vidro e a porta - talvez ela com toda certeza pudesse começar a rodar sem se dar conta da porta aberta e da bolsa também aberta, melhor, escancarada no banco, exposta para quem passasse, chamando a atenção.

Detalhe importante: como eu estava no lado da rua, com os carros passando saí rapidamente e me lembrei que não havia fechado meu carro, portanto estava aberto com minha mochila e o notebook e, pasmem, passei a achar que pudesse estar sendo vítima de algum ladrão "esperto". Imediatamente me dirigi ao meu carro, verifiquei que estava tudo em ordem - que alívio, e ao adentrar o interior, sento no banco e ligo o motor para já começar a resfriar o interior quando observo a senhora abrir o vidro da porta e começar a falar algo para mim. 

Começa aí uma parte bem engraçada, jamais poderia esperar pelo que viria a acontecer.

Abri minha janela e ela, colocando uma parte do corpo para fora da janela começa a me contar novamente a história de que havia recebido o carro como presente do filho dela, que não sabia mexer direito com os equipamentos, mas que era a filha que sabia e que ela, o mais inusitado de tudo, não queria nem saber das multas que porventura viesse a ter pois seria o filho dela o responsável pelos pagamentos, só faltando me dizer quem pagaria o seguro e o IPVA.

Imaginem a cena, eu querendo rir de tudo o que estava acontecendo, mas não deveria porque seria deselegante com a senhora; com toda certeza ela só queria conversar e me informar, talvez, o porque de não saber operar o veículo.

Sinceramente, tive vontade de rir às gargalhadas, acenei para ela, abri um leve sorriso, dei tchau, ela subiu a ladeira toda alegre porque seu carro agora refrigerava e ela não sentiria mais calor.

Coisas da vida e do cotidiano, porém mostrando que ainda existem pessoas que acreditam poder se sentir à vontade na presença de estranhos com total senso de inocência no tratar.


@Borba1948

ceborba.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário